quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Pôr do sol


"Me trouxe aqui para ver sua habilidade em jogar pedrinhas no mar?" Perguntou divertida enquanto via o amigo jogando as pedras cada vez mais longe.

"É que estou pensando"

"Então me trouxe aqui para eu te ver pensar?" Ela sentou numa enorme pedra e apoiou-se nas duas mãos, inclinando o corpo para trás.

"Mais ou menos"

"Ah é?" Riu. "Diga logo no que está pensando"

"Tudo bem" Ele atirou a última pedra e sentou-se ao lado dela. Passou a mão por seus cabelos lisos e pretos, então docemente ela o olhou.

"Eu vou para Portugal semana que vem" sua voz era meio triste. Ela esperou algum tom de insegurança, era o que precisava para fazê-lo desistir daquela ideia tão maluca! Mas não havia nada, além de uma certeza exagerada.

"Achei que estaria preparada para ouvir isso, mas agora vejo que não estou"

"Desculpe, mas... Eu tenho que ir, sinto falta da minha mãe" E quando ele falava desse jeito, ela se sentia culpada. Porque pedir para ficá-lo era como se estivesse pedindo que o amigo escolhesse entre ela e a mãe.

"Por que não foi com ela quando ela foi?" A pergunta soou rude demais...

"Porque eu não queria deixar minha vó sozinha, ela era uma segunda mãe pra mim" Sua avó havia cuidado dele pouco depois de nascer, porque a mãe foi diagnosticada com depressão e não teve condições para cuidar do filho. Arrumou um bom emprego e decidiu continuar morando lá.

"Achei que as coisas estivessem melhor, ela sempre te liga"

"Sim, e diz que está morrendo de saudades, quer me ver... Ela se sente culpada ainda, bem no fundo, por ter me deixado"

A mãe raramente fazia visitas, já que não podia abandonar o trabalho.

"Posso pedir uma última vez para você ficar?"

"Não vai mudar nada Mily, então por favor não peça"

Eles se olharam por alguns segundos e então ela o abraçou forte. Permaneceram abraçados, sentados, calados, deixando que o gesto traduzisse a saudade que sentiriam um do outro.
O telefone de Milena tocou. Ela apertou 'End', e disse sem importância:

"É o Derrick, não vou atendê-lo"

"Deveria se importar mais com o seu namorado, apesar de eu não ir com a cara daquele babaca"

"Ele se importa mais com as amiguinhas dele do que comigo"

"E às vezes você parece se importar mais comigo do que com ele"

Talvez eu me importe, Milena pensou, mas não disse.

Voltaram ao silêncio por algum tempo, depois ela o quebrou:

"Hugo, não queria me despedir..."

"Então não se despeça, eu já sei que você vai morrer de saudades mesmo" Ele riu e ficou feliz por ter conseguido arrancar uma gargalhada da amiga.

"Vou mesmo"

"Eu também"

No horizonte, o sol começava a se por. Ficaram conversando sobre coisa nenhuma, riram, brincavam, e tentavam guardar aquele momento para sempre. No caminho de volta para a casa o telefone tocou mais algumas vezes, mas ninguém se importou que ele fosse atendido. Ele a levou em casa como sempre fazia, apesar de morar duas quadras antes dela; desejou boa noite e lhe deu um beijo na bochecha. E como sempre fazia, ela o desejava sonhar com os anjos, e se não fosse com eles, que fosse o mais bonito que pudesse existir.

Entrou em casa e correu para o quarto, deixando que as lágrimas expressassem o que ela sentia naquele momento.






3 comentários:

  1. Agradeço a sua visita ao meu blog e a retribuo, estarei acompanhando seu blog e seus poemas...

    Uma Boa Noite!
    =D

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  2. Nooossa! Noooossa! Amei, amei, ameiiii!!
    Lindo demais esse conto!
    Vc escreve muito bem! Espero que um dia vc possa publicar um livro, pois tenho certeza que faria muito sucesso.
    Bjs!

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